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Foto do escritorDanielle Vidal de Aguiar

Conversa com Psicóloga sobre sua atuação no Centro Pop


pessoas dormindo nas calçadas da cidade de Fortaleza, Ceará. Esse ano de 2021 será realizado um Censo da População de Rua em Fortaleza.
Pessoas em situação de rua em Fortaleza/CE

Olá, tudo bem com você? Vamos ver a atuação do profissional de psicologia, nas falas da profissional Micaela, psicóloga que atuou no Centro Pop por pouco mais de 2 anos. Como eu nunca atuei profissionalmente no Centro Pop , pude conhecer mais a dinâmica desse tão importante serviço.


Obs: ela é minha amiga do coração, a conheci na minha atuação da Casa de passagem para Homens em situação de Rua.

Vamos lá:


1. Me descreva como se iniciou sua atividade profissional no Centro Pop, desde o seu processo de seleção.

A principio, para ingressar no Centro Pop e passar a trabalhar diretamente com pessoas em situação de rua, tive que fazer a seleção para psicólogo assistencial por meio de prova escrita elaborada por meio de edital do Imparh. Fiz 2 seleções sucessivas, logo, totalizei 2 anos e 6 meses. Ressaltando que cada seleção é válida por período de 1 ano, prorrogável por igual período. Ao chegar no Centro Pop tive , inicialmente, que fazer uma mudança de paradigmas acerca da população. Ao contrário do que muitos pensam; são pessoas empoderadas, conhecedoras de seus direitos, criadores de suas regras de convivência; não apenas se restringem a visão geral de que, por passarem por privações, se colocam em postura fragilizada. Ao contrário, são fortes e determinados na sua grande maioria. Iniciei os trabalhos me apropriando de como o serviço poderia contribuir com o resgate da cidadania. E assim, fui aprendendo o cotidiano dos atendimentos.


2. Qual a importância da atuação profissional do psicólogo no centro pop?

O psicólogo no Centro Pop, por se tratar de um equipamento da assistência, não faz atendimento de psicoterapia. Porém, o trabalho consiste em avaliar perfis de encaminhamentos ao abrigo, ao resgate de cidadania, à psicoeducação, oferecer suporte emocional diante das adversidades e limitações do contexto situacional e participar das atuações interprofissionais em que dará sua contribuição de análise técnica.


3. Qual era a sua maior dificuldade, ou dificuldades no seu cotidiano profissional?

As dificuldades cotidianas são enormes e de toda natureza. O primeiro e talvez maior obstáculo seja o preconceito social. Muitos ainda os olham com desprezo ou fazendo pré julgamentos acerca da licitude de seus atos.

Posteriormente, apresentam-se as barreiras inerentes ao sistema. Como a população em situação de rua cresceu consideradamente, inclusive em período de pandemia, não há vagas suficientes em abrigos e pousada social.

Uma outra dificuldade diz respeito à manutenção da saúde, tendo em vista que possuem todos os tipos de privações ( alimentar, higiene, moradia...) o que afeta os cuidados básicos. Outra dificuldade reside na informatização de praticamente todos os serviços ( o que torna difícil, por exemplo, a realização de inscrições ou o acesso à informação); algo que é feito com o auxílio do Centro Pop.

Uma outra grande dificuldade reside na dificuldade de contra-argumentar algumas regras criadas por eles próprios. Explicando melhor: como eles tem que ser muito fortes para suportar todas as adversidades, acabam por criar para si regras muito rígidas , e, desse modo, qualquer desvio quanto à tais condutas, é severamente punido por meio de agressão física; como uma forma de seleção social. Diante disso, o Centro Pop faz um trabalho sistemático de não violência. Portanto, é feito todo um trabalho baseado no Princípio da Dignidade da pessoa humana, bem como reforçar aparatos em busca da equidade com a participação ativa no meio social. Vale ressaltar que sempre tentamos resgatar vínculos rompidos com familiares, inclusive por meio de busca ativa, concessão de Aluguel Social e passagens intermunicipais para retorno ao lar.


4. Você tem alguma experiência marcante de superação de vulnerabilidade e risco social com o usuário do serviço?

Uma das experiências mais marcantes como forma de superação de vulnerabilidade social foi o Projeto Novos Caminhos. Participei ativamente da elaboração e execução do projeto. Consistia numa parceria de uma instituição de pesquisa sobre drogas do Rio de Janeiro e a prefeitura de Fortaleza.

Consistia em reinserir no mercado de trabalho as pessoas mais excluídos do contexto social. Logo, um primeiro requisito era ser usuários de substâncias psicoativas.

Assim, os interessados faziam comigo o cadastro e ficavam em acompanhamento pois eu era a técnica de referência. A pessoa teria que fazer 2 cursos com duração de 1 mês. Os cursos eram conjugados de acordo com a área de interesse ( pintor- auxiliar de pedreiro, bombeiro hidráulico- manutenção de praças, cabeleireiro-massotetapia, portaria- serviços gerais). Todo o material didático era fornecido e aulas diariamente em um turno. Após conclusão de cada curso, o participante recebia uma ajuda de custo. Após a conclusão de dois cursos e , a depender do desempenho, recebia outro percentual e era encaminhado ao estágio supervisionado; além de ser concedido o Aluguel Social. O êxito foi gratificante: os que se dedicaram conseguiram resignificar a vida e estão inseridos em um novo contexto social ; inclusive um deles é motorista da SDHS e outros estão trabalhando em portarias, lojas, etc. Essa é a prova de que com um suporte associado à motivação e interesse pessoal, pode-se mudar qualquer situação de vida.


5. Qual sua dica que você daria para o(a) psicólogo que está no início de sua atuação com o público em situação de rua?

A dica que eu daria é a que oriento a qualquer trabalho em Psicologia, qual seja, gostar do ser humano. É preciso amor para se atender pessoas que não correspondem ao que se espera receber em um contexto de clínica. E esse amor faz toda diferença ao olhar que teremos ao ouvir sobre a vida de cada pessoa que nos procura.



Você conhece o centro pop do seu território? Você gosta ou gostaria de trabalhar com a população de rua? Qual o recorte? Mulheres, homens ou crianças e adolescentes?


Até logo!





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